Michel Temer como prioridade na câmara
BRASÍLIA - A sucessão na presidência da Câmara virou assunto de estado para o PMDB. A bancada do partido na Casa deu o pontapé inicial, na última quarta-feira, em uma articulação para pavimentar a volta do presidente da legenda, o deputado Michel Temer (SP), ao comando da Câmara, em fevereiro de 2009. Ao todo 94 dos 96 deputados peemedebistas, acolheram, por aclamação, a indicação de Temer. Com um discurso afinado e ecoando unidade, caciques do partido – que é tradicionalmente conhecido pelo racha em suas várias correntes – compareceram e prometeram trabalhar pela eleição do deputado paulista.
O ex-presidente e senador José Sarney (AP) deu o tom da campanha. “A eleição de Temer é uma prioridade para o todo o PMDB”, afirmou. Temer também tem se esforçado nos últimos meses para ganhar espaço. Hábil articulador e professor de Direito, o peemedebista tenta deixar de lado a imagem de integrante da elite do PMDB para se tornar um parlamentar mais acessível, inclusive, ao baixo clero (grupo de parlamentares que não ocupam cargos de destaque na Câmara nem nos partidos políticos), que deve decidir a eleição e é o reduto de seu principal adversário, o deputado Ciro Nogueira (PP-PI), segundo-secretário da Câmara.
A estratégia de Temer inclui conversas individuais e reservadas. Nos encontros, trata discretamente de Ciro, mas não deixa de lembrar a ligação do progressista com o ex-presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, que renunciou ao mandato para não ser cassado, depois de que foi denunciado por cobrar propina para prorrogar a permissão para um empresário manter em funcionamento um dos restaurantes da Câmara.
Outra investida começou em julho com gravações para deputados e seus aliados que disputavam as eleições municipais. Temer também visitou a base em troca de apoio. O peemedebista acredita ainda que pode ganhar votos pelo currículo com seis mandatos legislativos, um deles na presidência da Câmara, além de sempre ter ocupado cargos de comando na Casa, como a liderança do PMDB e o controle da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).
Para seduzir os deputados, Temer também lança mão de um discurso corporativista. Argumenta que o trabalho do Legislativo não deve ser medido pelo número de leis produzidas, mas pela soberania e pela defesa dos princípios da Constituição, criticou o Judiciário por interferir na vida do Legislativo e repudiou a divulgação de uma lista de políticos “fichas-sujas” pela Associação dos Magistrados do Brasil. 'Quando se criou a divisão entre os poderes, a idéia era de um judiciário isento para julgar. Como é possível um judiciário quando ele previamente chama alguém de ‘ficha-suja’?', ponderou.
Agora, Temer e os peemedebistas trabalham em duas frentes: a sustentação da indicação com apoio dos partidos na Câmara e as articulações para a sucessão no Senado. Como aliados, os peemedebistas já contam com o PT, com 79 deputados, e com o PSDB, com 59 parlamentares. Os dois partidos, no entanto, já protagonizam um embate nos bastidores atrás de cargos. O que pode colocar abaixo os planos do PMDB. Tucanos e petistas brigam pela vice-presidência e a primeira-secretaria. Cargos importantes e que também ditam o ritmo da Casa. Temer já ofereceu o cargo de primeiro vice-presidente aos tucanos e a poderosa primeira-secretaria aos petistas.
Mas o PT quer as duas vagas. “Contamos com dois cargos na Mesa”, reconhece o líder do PT na Câmara, Maurício Rands (PE), que desconversa sobre quais seriam as pretensões. “Estamos conversando ainda”, destaca o líder, que não compareceu ao ato de lançamento da candidatura do peemedebista. Por lá, desembarcou o atual presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), para reforçar o cumprimento do acordo que balizou sua candidatura. Em 2007, os peemedebistas abriram mão de indicar um candidato para fortalecer o nome do PT e em troca, em 2009, os petistas deixariam a Câmara nas mãos de Temer; enquanto no Senado haveria alternância entre os dois partidos, que ora foi comandado por Renan Calheiros (PMDB-AL) e repassado ao senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), depois de sete meses envolvido em um escândalo.
Pelos cálculos Temer, será preciso no mínimo articular o apoio do chamado bloquinho para garantir a vitória em plenário com apoio da maioria dos 513 deputados. Os pessebistas simpatizam com a candidatura do deputado Ciro Nogueira, nome do PTB, PR e PP, com 120 votos. Os pedetistas foram procurados pelo PMDB que soma o aval do PT, registrando algo em torno de 180 votos.
Se o bloquinho, com 78 votos, estivesse unido, embolaria a disputa e poderia pavimentar a chegada de Ciro na presidência, porque puxaria ainda os votos do DEM, enquanto o PSDB estaria com Temer. Mas o bloquinho, que ainda não discutiu a sucessão, e alguns deputados indicam que podem acompanhar Ciro, como uma revolta contra a concentração de poder entre PT e PMDB. Na somatória dos peemedebistas faltam ainda os votos do PSC, PPS e outros nanicos. O PSC deve manter o apoio ao bloco do PMDB, mas também quer garantia de um assento de destaque na Mesa Diretora.
Avulso
Os partidos nanicos também podem surpreender e dar fôlego a campanha de outro peemedebista, o deputado Osmar Serraglio (PR). O peemedebista do Paraná é o atual comandante da toda poderosa Primeira-Secretaria, considerada a prefeitura da Câmara, conquistada também por meio de dissidência. Ele lançou-se candidato, em 2007, à revelia do partido e derrotou Wilson Santiago (PMDB-PB), o candidato oficial do partido. Serraglio não compareceu a formalização de campanha de Temer e avalia que pode lançar candidatura avulsa. Reclama da alta concentração de poder no PMDB, mas está cauteloso. “Não vou atropelar ninguém. Estou analisando a situação com calma. Ele [Temer] pode ter o aval da cúpula do PMDB e do PT, mas a eleição é da Câmara. É o plenário, é o voto de cada deputado que vai valer”, declarou.
Indefinição
As articulações para a sucessão no Senado também serão decisivas para a campanha de Temer. Pelo acordo, seria levado a presidência da Casa Alta o petista Tião Viana (AC), nome de apreço do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Mas o nome não empolga aos peemedebistas, que discutem como fica a situação do partido na próxima semana durante um jantar. A resistência vem do grupo ligado ao senador José Sarney (AP) e do senador Renan Calheiros (AL).
O ex-presidente do Senado que renunciou a cadeira máxima da Casa para evitar ser cassado tem ressentimento de Viana, vice-presidente do Senado, da época em que pipocaram as denúncias de que teria contas pessoais pagas por uma empreiteira. Mas o assunto ainda está longe de ser resolvido. Dentro do partido o nome do senador José Sarney é unânime e derrubaria qualquer acordo. Mas ele diz que, agora, quer se dedicar a literatura e não teria mais o tempo desejado para se dedicar aos ritos que o cargo exige.
Apelo
O Palácio do Planalto faz pressão para que a bancada do PMDB aceite a indicação do petista, em troca do apoio ao deputado Michel Temer (PMDB) para a Presidência da Câmara, mas a posição dos caciques da legenda ainda não foi fechada. Em um jantar no Palácio da Alvorada, na quarta-feira, o presidente Lula reforçou aos caciques do PMDB do Senado o apoio ao petista. No entendimento de Lula, a sucessão na Câmara e no Senado vai servir de teste para um vôo mais alto em 2010 para as duas legendas.
Senadores peemedebistas teriam sinalizado que podem desistir da presidência, mas nada foi fechado. Além de Renan e Lula, participaram do jantar os senadores José Sarney (AP), Roseana Sarney (MA), Romero Jucá (RR), líder do governo; e Valdir Raupp (RO), líder do PMDB. O grupo teria o direito de escolher o sucessor de Garibaldi, já que cabe à maior bancada, conforme a tradição do Congresso, definir os presidentes da Câmara e do Senado, mas a idéia causa pânico no Planalto que teme a concentração na mão dos peemedebistas. “Temos força para estar no Planalto. Vamos buscar uma composição que esteja à altura do PMDB. Temos dois anos para trabalhar e se aparecer um nome, se tivermos condições, não vamos nos contentar apenas com a vice”, disse o ministro de Minas e Energia, Edson Lobão..
Para o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, o PMDB tem força e pode trabalhar um nome pelos próximos meses que seja capaz de representar o projeto do partido para o país. A aliança com o PT seria, na avaliação dos ministros, uma rota natural, uma vez que o próprio Lula propaga a idéia de que seria melhor lançar um único nome da base aliada na disputa. “O entendimento sempre é o melhor caminho”, desconversou Geddel. (Agência Nordeste)
Escrito por Magno Martins às 08h51
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